sábado, 30 de julho de 2011

Combate à violência de gênero e perspectiva de segurança da mulher.

Novidade: a igualdade
está ficando igual
 
Alguém ainda há de se lembrar do tempo em que chamavam as mulheres de sexo frágil. E da época em que elas ficavam bravas, dizendo que não eram frágeis coisa nenhuma, que eram tão ou mais fortes do que os homens. Pois hoje a situação é a seguinte: ser mulher, com todos os adjetivos que o sexo carrega, frágil, sensível, delicada, ponderada, é o máximo. O mundo anda apostando em valores femininos, como a capacidade de trabalho em equipe contra o antigo individualismo, a persuasão em oposição ao autoritarismo, a cooperação no lugar da competição. As mulheres ocupam postos nos tribunais superiores, nos ministérios, no topo de grandes empresas transnacionais, em organizações de pesquisa de tecnologia de ponta. Pilotam jatos, comandam tropas, perfuram poços de petróleo. Não há um único gueto masculino que ainda não tenha sido invadido pelas moças.
É claro que isso não quer dizer que homens e mulheres tenham empatado em todas as áreas. A dispersão feminina além das fronteiras das mesas de secretária, das lousas das salas de aula e dos ambulatórios de enfermagem ainda é muito recente. Mas as moças são apressadas. Elas estudam mais, sentem-se desafiadas a comprovar sua competência e por isso acabam vencendo a corrida contra os homens. Segundo uma pesquisa recente feita pelo Grupo Catho, empresa de recrutamento e seleção de executivos, as mulheres conquistam cargos de direção mais cedo. Tornam-se diretoras, em média, aos 36 anos de idade. Os homens só chegam lá depois dos 40.
A vida da mulher no trabalho é um paraíso? Ainda não. As pesquisas demonstram a persistência de algum preconceito, que dificulta o progresso na carreira e mantém os holerites femininos mais magros que os masculinos. As tais diretoras investigadas pelo Grupo Catho, por exemplo, recebem 22,8% menos que seus colegas. De maneira geral, no Brasil, as mulheres ganham o equivalente a 61% do salário dos homens. O problema afeta especialmente as profissões de salário mais baixo. Quando sobem na carreira e adquirem maior qualificação, as mulheres têm seu talento mais bem remunerado. Assim, no topo elas quase se igualam aos homens. O mais interessante é que nesse processo de conquista as mulheres que mais avançam são justamente aquelas que não fazem da condição feminina seu cavalo de Tróia. O feminismo não as levou além das manchetes de jornais e noticiosos de televisão. Nenhuma mulher se tornou astronauta, juíza da Suprema Corte, presidente de uma corporação apenas por não ser homem. Ou seja, não subiram por necessidade das corporações de diversificar seu quadro. Subiram por seus méritos medidos pelos padrões que valem tanto para homens quanto para mulheres. Poderiam ter subido em maior número? Ou seja, já que são mais da metade da população, deveriam ser também mais da metade dos líderes empresariais, dos deputados e senadores? Mais da metade dos médicos e engenheiros? A resposta a essa pergunta vem de um estudo estatístico feito pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, segundo o qual isso é uma questão a que só o tempo responderá. É inútil fazer projeções. Se as mulheres passarem a ser maioria em todos os degraus de entrada das profissões em questão, não haverá discriminação nem preconceito que as impeçam de chegar em igualdade de condições ao topo da pirâmide das empresas e das instituições. A beleza do estudo de Harvard está em que, se a condição feminina, ao contrário do que se imagina, não atrasou a chegada das mulheres ao mercado de trabalho, essa mesma condição também não é o motor de seu progresso.
Fonte: Revista Veja - Edição Especial Veja Mulher - novembro/2001.
Postado por Carla Germano. 

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